Anatomia do Hatha Yoga

por Carolina Langowski
Sabemos, através do Yoga, que nós somos um espelho do macrocosmos, formados pelos mesmos cinco elementos que configuram a totalidade da Criação. Portanto, nosso corpo abriga a mesma energia criadora do universo.
Esse corpo é a casa de nossa essência, e para as coisas fluirem bem, essa casa precisa de estar limpa, funcionando direitinho, sem vazamentos, rachaduras; não importando se a casa é grande ou pequena, alta ou baixa, branca ou preta, o interessante é fazer com que quem habite essa casa se sinta bem e confortável. Consequentemente, o nosso corpo, nossa postura, refletirão nosso estado de espírito, e vice-versa. Trabalhando o nosso corpo mexemos com o que está lá dentro, então deve ser da melhor maneira possível.(...)
Tenho como maior objectivo fazer um trabalho de conscientização, através de um estudo de anatomia, para que possamos ter uma prática limpa, evitar lesões na prática dos asanas, e trabalhar de maneira consciente nas posturas, sabendo o que o seu corpo pode ou não fazer, para que haja desapego em relação aos asanas, e que o restante da prática possa ser desenvolvido. Ou seja, quando conhecemos o nosso corpo, suas estruturas, seu funcionamento, é mais fácil praticarmos da maneira adequada para obtermos os efeitos sutis, como o desbloqueio das nadis, pois não haverá tensão, e a postura realmente será confortável e estável, firme e agradável.

Sempre gosto de lembrar que os asanas são apenas parte do Yoga, e não devemos ter apego a eles. Então, utilize ponha em prática o primeiro degrau da escada do Yoga, os yamas e niyamas, principalmente ahimsa (a não-violência). Assim, conseguiremos manter a essência do Yoga.

Estudando a anatomia do Hatha Yoga, podemos observar algumas dicas para a prática de asanas, que podem ser muito  úteis, como:

Manter a consciência durante toda a prática. Não importa se a postura é fácil ou difícil, deve-se praticar com atenção voltada para si mesmo, evitando qualquer de comparação ou competição, sentindo os efeitos da prática, e também na entrada e saída dos asanas, pois estes ainda fazem parte do asana, exigem a mesma consciência. Para que isso ocorra é necessário consciência na respiração, que deve estar lenta e tranquila, nunca travando a respiração durante uma postura, pois assim há um bloqueio de prana. Use a sua respiração como um termómetro, se ela estiver muito ofegante, você passou do seu limite.

Preparar o corpo para asanas de forma equilibrada. Equilíbrio entre força, flexibilidade e resistência. Observe as suas facilidades e trabalhe em cima das dificuldades. Balancear também os dois lados do corpo, enfatizando as posturas para o lado que há mais dificuldade. Trabalhar as posturas que você mais precisa e não só as que você mais gosta. Fortalecer a musculatura abdominal e de sustentação da coluna para manter a sua postura alinhada naturalmente. As articulações precisam de espaço e movimento, pois quando não há espaço, os ossos começam a se tocar e podem pinçar os nervos, produzindo dor. Para que haja espaço, a articulação necessita de ser movimentada e a musculatura que envolve a articulação deve estar forte e flexível.
Ouvir o seu corpo, inclusive a dor. Ouça as sugestões do seu corpo para prevenir lesões na prática de asanas. Através da prática, você deve desenvolver respeito por você mesmo, sem se comparar e sem querer chegar a lugar nenhum. Inicie sua prática com o objectivo de prevenir a dor (nenhuma postura é benéfica se produzir dor no momento da execução). A dor é um instrumento poderoso que temos a nosso favor, é um mecanismo de protecção corporal, que ocorre sempre que algum tecido esteja sendo lesado, e nos provoca uma reacção para remover esse estímulo doloroso, ou seja nos avisa nosso limite e se algo está errado. Mas quando ocorrer, considere um presente, ela mostra que algum problema está acontecendo. Analise o que ela lhe que dizer. Caso você não ouça os recados da dor e continue forçando, você será um candidato a ter músculos estirados, tendinites, nervos pinçados ou ruptura nos discos intervertebrais. Além disso, seu sistema nervoso irá guardar memórias de dor, medo e ansiedade, produzindo exactamente o resultado contrário ao objectivo do Yoga, que é liberar o corpo, retirar dele os condicionamentos e as memórias negativas.
O ideal é praticar pela manhã. Estamos menos flexíveis e também mais sensíveis, por isso o nosso corpo nos mostra onde há necessidade de um trabalho com mais atenção e cuidado. No final do dia, o corpo já está muito mais flexível e a sensibilidade corporal está menor, o que pode ajudar a produzir lesões, pois acabamos por não perceber os nossos limites e os ultrapassamos mais facilmente.
 
Contentamento. Cultivar a paciência e o desapego em relação aos resultados da prática (Yoga é o caminho e não, só o lugar onde queremos chegar). Aprender a esperar é uma das lições mais importantes por isso, mova-se em direcção às posturas com calma. Lembre-se de que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose.
Pratique regularmente, sem forçar, reconhecendo o seu próprio corpo que contém registo vivo da sua história. Não esqueça que os benefícios do Hatha Yoga vão além de promover um corpo saudável, forte e flexível. Sinta a experiência no momento presente, livrando-se de qualquer expectativa. (...)"